quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

2005 (1)

Não tenho grande capacidade de síntese nestas alturas, e o pouco tempo livre de que disponho não dá azo a grandes elaborações. Mas posso ir tentanto. Então falemos dos melhores álbuns de 2005. Cá ficam:







Este último é já de 2004, mas eu só o descobri este ano e a lista é minha, faço o que eu quero. Boa noite a todo o auditório.

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

A César o que é de César

Que este blogue serve para denegrir a imagem do seu autor, isso não constitui surpresa. Agora, a sua utilização para troçar uma terceira pessoa é que já me parece abusivo. Não sede injustos, o bobo aqui sou eu.

Isto anda para aí um vírus

Cristo vivo

Não quis provar nada nem, acreditem, fazer nenhuma declaração. Quis apenas relacionar o Natal com a figura de Cristo. Uma relação perigosa nos dias que correm. Uma relação, pessoalmente, algo ténue (infeliz e imperdoavelmente). Ainda assim arrisquei e aqui coloquei uma imagem de Cristo (morto, sim) de que gosto muito. Teologicamente desfasado com o calendário, este quadro de Mantegna é no entanto exageradamente táctil. Apresenta-nos um corpo deitado, inerte. Um homem morto que é chorado por duas pessoas, um homem e uma mulher, que em nada se anunciam como Maria e S. João. A importância dada ao corpo é invocada pela perspectiva que, ao dificultar o trabalho da proporção na definição do corpo humano, prende-nos nos pormenores que nos surpreendem (e terão surpreendido muito mais em 1480). A invulgaridade desta pessoa é-nos sugerida pela sua boa forma física: em todos os aspectos é um corpo quase ideal que aqui vemos. Se excluíssemos as chagas e o contexto, veríamos uma imagem da finidade humana, da sua extrema e imprevisível fragilidade, da morte como fim natural de todos nós. Não é um velho ou um doente que morre mas um homem no auge da sua vida. E é ao acentuar os ossos e a carne de Cristo, bem como a relativa indiferença com que representa o choro de Maria e S. João, que Mantegna nos assola com o choque do real e retira Cristo da distância institucional que a sua condição muitas vezes cria. Esta dimensão irreal de Cristo é acentuada no Natal, onde o homem é passado a menino. O Natal celebra quase um acontecimento abstracto e utópico, um ideal de amor humano que encontra na criança a metáfora perfeita. Mas o Natal é o nascimento de um homem que, apesar de dividir todos os outros acerca da sua condição divina, mudou o mundo. Não sei se isso é o suficiente para o deificar, mas sei que é o suficiente para o recordar. Ano a ano, no Natal. E o resto é palha.

sábado, 24 de dezembro de 2005

Bom Natal



Andrea Mantegna

Big Flop

King Kong é desproporcionado, exagerado, musculado, ruidoso, inverosímil, incomodativo, mau. E tem um macaco lá no meio.

(Safam-se Jack Black a fazer de Jack Black e Adrian Brody a fazer de Adrian Brody. O resto é lixo.)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

E nós com ele

O Carlos MacGuffin Carapinha está a perder qualidades.

Sensibilidades

Quanto ao uso do preservativo, estou com Ratzinger: sou contra.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

O «debate»

Só é possível analisar um debate entre dois candidatos à presidência de um país da União Europeia quando os dois decidem comportar-se como tal. Infelizmente (ainda que felizmente para mim e muitos mais, que vêem o objectivo desejado cada vez mais perto) isso ontem não aconteceu. Perante Cavaco esteve um derrotado desesperado e desesperante, obcecado pela figura que tinha à frente e, talvez o mais triste, sem capacidade para descer o nível da conversa, apesar das continuadas tentativas. Por muito que isso custe a Soares, ele vai ser presidente.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

2009

Manuel Salgado defende estação do TGV para Chelas

Quarenta e três finalistas de Arquitectura do Instituto Superior Técnico (IST) respondem hoje a um desafio que lhes foi lançado pelo arquitecto, que é responsável pela cadeira de projecto do final do curso: como sofisticar o bairro de Chelas, libertando-o do estigma de ghetto que sempre lhe esteve colado?
(...)
Pura utopia? "Estes trabalhos têm um certo grau de utopia que é útil e necessário. Mas também houve preocupações de exequibilidade". Manuel Salgado garante que não passou despercebido aos futuros arquitectos o facto de Chelas ter um vale por onde várias linhas de água escorrem para o rio, o que constitui uma condicionante à construção. Na Avenida da Liberdade há uma situação semelhante, e não é por isso que ali continuam hoje as hortas que em tempos lá existiram, observa.
O presidente da câmara e o secretário de Estado do Ordenamento do Território estão entre os convidados para a apresentação dos trabalhos dos finalistas no IST.


in Público, 20.12.05

domingo, 18 de dezembro de 2005

Puro deleite



(Caro André: lamento, o meu é muito mais bonito.)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Aires Mateus: round two

O João defende que a exposição Aires Mateus: arquitectura é verdadeiramente uma exposição de arquitectura (ao contrário do que eu sugeri), não acreditando nessa «desconformidade entre a exposição e a arquitectura». Ou seja, nas palavras do João, neste caso a comunicação da arquitectura é feita em «concordância com o pensamento arquitectónico que se pretende comunicar.» Percebo o argumento (Manuel Graça Dias tem um ponto de vista semelhante, desenvolvido no Expresso desta semana) Seja. Aceito. Estamos então perante algo cada vez mais artístico, em todos os sentidos da palavra: criativo, único, independente, plástico, livre, emotivo, essencial. E estamos perante mais uma prova de que os arquitectos cada vez mais querem desenhar para arquitectos, porque só estes (raras são as excepções) serão capazes de acompanhar todas as intenções tão puramente apresentadas, podendo colocar-se na posição priviligiada do apreciador. Porque a procura tão intensa da radicalidade dos gestos arquitectónicos deixa pelo caminho todas as notas de rodapé essenciais à compreensão do todo. Ao fechar ao máximo, como o fazem os irmãos Aires Mateus, o buraco da fechadura por onde se espreita a arquitectura, é inegável que o fascínio é maximizado em detrimento da informação, da explicação, da discussão. Esta exposição serve para impressionar. Ao fazer isso usa a própria arquitectura que é escolhida, descontextualizando as obras e reutilizando os fragmentos dessa operação dando-lhes um novo significado ou, e aqui reside a base da nossa discordância, recuperando esse significado conceptual primário que as coisas tiveram antes de terem sido largadas no mundo. Esta é a dúvida: arquitectura sem pessoas é arquitectura?

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Patético*

O senhor responsável pela página Quadro de Honra da revista Dia D (suplemento de qualidade do Público de segunda-feira) achou por bem ilustrar uma pequena nota que fez relativa ao elevado número de pessoas que adquirem «deficiências auditivas devido às suas actividades laborais», com esta imagem:



Vamos partir do princípio que, de facto, aquele pano branco à volta da cabeça deste senhor obviamente surdo é uma indicação sobre a sua, óbvia, surdez. Vamos partir do princípio que, à semelhança do que se passa com os cegos e os óculos escuros, que, como sabemos, é uma associação impossível de falhar, ou seja, sempre que um indivíduo por nós passa na rua envergando um par de lentes corta-sol assola-nos logo aquele sentimento misto de culpa e compaixão para quem infelizmente é detentor de uma deficiência física extremamente aborrecida, dizia, partiremos então do princípio que o facto de esta figura aqui retratada ostentar um pano sobre a orelha só pode significar que não tem a capacidade de ouvir. Vamos, inclusivé, partir do princípio que nos deverá saltar ao conhecimento imediatamente ao vermos esta imagem que este senhor é surdo. Iremos, posto isto, partir do princípio que esta é uma imagem neutra, simples, que terá sido produzida por um qualquer designer estagiário para ilustrar uma campanha a favor das vítimas da surdez, ou seja, dos surdos. Trocando por miúdos, vamos partir do princípio que todos nós somos capazes de, ao mirar prostrados esta maravilhosa escolha de ilustração, proceder ao mecanismo de raciocínio que nos levará no seguinte caminho: imagem - pano - orelha - surdez, assim, sempre em frente, sem medos. Ora, partindo do princípio que isto tudo faz sentido, será que é suposto ignorarmos que estamos perante um auto-retrato de Van Gogh e que aquele pano branco não, não é um sinal alusivo à sua surdez, mas o resultado trágico da sua instabilidade psíquica que foi responsável por um célebre ataque de auto-mutilação que levaria o artista holandês a cortar a sua própria orelha aos 23 dias de Dezembro de 1888, em Arles**?

* No tal Quadro de Honra esta nota aparece, ironia ironia, junto ao infinito imaginário do eixo do referencial com esta denominação.

** É que se não é suposto ignorarmos esta pequena informação, de que forma deveremos relacioná-la com, relembro, as pessoas que adquirem «deficiências auditivas devido às suas actividades laborais»? Ora, só podemos imaginar, e estando nós conscientes da «actividade laboral» de Van Gogh, será que o nosso amável jornalista nos quis implicitamente sugerir toda uma imagética envolvendo pincéis e (aqui está a subtileza) um novo
meio de pintura, avançando quiçá com uma alternativa natural aos óleos e acrílicos?

domingo, 11 de dezembro de 2005

Watts e Kidman



Chegará o dia em que, inevitavelmente, o mundo terá que se dividir entre aqueles que preferem Naomi Watts a Nicole Kidman e aqueles de mau gosto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Uma questão pertinente

A recente polémica sobre os crucifixos nas escolas levanta uma questão interessante: por que razão não se ouve uma única voz representativa das confissões não católicas no coro exigindo a retirada desses símbolos? (...)

Esther Mucznik dedica o seu artigo de hoje a responder a esta pergunta («Laicidade e liberdade religiosa», sem link, no Público).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Símbolos

Haverá algo mais arreligioso do que um par de ursos polares? Enquanto anda meio portugal a discutir a retirada massiva dos cinco crucifixos que ainda restavam nas escolas públicas mais remotas (acho bem, fica registado, apesar de considerar que um símbolo religioso esquecido e, provavelmente, ignorado numa parede de uma sala de aula, que como sabemos, é objecto do maior dos afectos por parte dos alunos, está longe de ser uma ofensa ou uma violação de uma qualquer liberdade fundamental), houve alguém que se lembrou de afastar do Natal o seu lado religioso. O que sobra?, pode perguntar-se. Parece que muita coisa. E parece também que fazer associar o menino Jesus, vá lá, as palhinhas e os pastores, vá lá, o burro e a vaca ao Natal é uma atitude semelhante a ter crucifixos pendurados em pregos nas paredes. Uma claríssima violação constitucional. Uma barbárie. E este Estado que se diz laico. Onde é que já se viu, querer tornar o Natal numa coisa cristã. Vai daí e os senhores responsáveis pela decoração natalícia da estação de metro da Alameda lembraram-se de, em vez do ofensivo presépio (v. palinhas, jesus, vacas e burros), presentear a laicidade natalícia respirada pela maioria dos utentes do transporte público subterrâneo de Lisboa com, vejam bem, um par de ursos polares cobertos por uma substância que me parece querer representar neve. Está bem. Concordo. A opressão natalícia já vinha sendo exercida há demasiados anos sobre a significativa comunidade esquimó portuguesa.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Blogosfera

Tenho uma relação de amor-ódio com as mulheres. Eu amo-as. Elas odeiam-me.

Tiago Galvão, no seu já obrigatório Diário.

Outro exemplo, não resisto: Uma leitora diz que eu lhe falo ao coração. A última mulher a quem eu fiz isso teve um ataque cardíaco.

sábado, 3 de dezembro de 2005

Beta gira

Parece que o Vasco ficou tão espantado quanto eu. De facto, e é isso que até ver se constata, Vasco Pulido Valente elogiou realmente alguém. Ora, e não sendo eu dado a especulações do foro táctico-íntimo, surgem desde logo uma série de suposições todas elas passando pelo facto de o objecto do elogio de VPV apresentar, digamos, um aspecto um bocadinho acima da média do que aos intelectuais diz respeito. Brains and looks, ou coisa que o valha. Uma coisa é certa: este pode ser o início de uma nova era no colunismo português.

P.S: Se toda a gente se plagia, quem plagia VPV?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Bom blogue

Venturi, casas de imigrante, e o link para o site de José Forjaz. Começou muito bem, odespropósito.

«Gira», sei

O que é uma beta?