sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Não digam que não avisei

Eu tenho leitores respeitáveis, e portanto limito-me a apontar na direcção certa. Aqui vai: o Ricardo Gross tem lá no blogue dele uma fotografia de Gisele Bündchen nua.

O flagelo

Proposta de Regulamento para o Plano de Revitalização da Baixa-Chiado:

«Artigo 1º e único

a) É considerado crime o acto de cuspir para o chão.
b) A pena única para o crime descrito em a) é a morte.»

Publique-se.

Vamos parar é com as brincadeiras de fechar o Terreiro do Paço ao domingo, está bem? Eu até sou compreensivo e percebo que pode ser interessante ter pedestres domingueiros a passear no asfalto desimpedido, mas desde que se veja o rio. O Terreiro do Paço é o que é - vão ver aos livros - porque é uma praça aberta ao Tejo. Fechar o Terreiro do Paço ao trânsito para que as pessoas possam contemplar os tapumes com mais tranquilidade parece-me uma ideia estúpida, sobretudo quando se mora numa das ruas para onde o trânsito é «desviado». Ao domingo, note-se, eu podia estar de janela aberta. Podia, mas já não posso. Os domingos agora são dias de buzinão intenso na minha rua, e isso - acreditem - pode ser desagradável. Eu percebo o que se está fazer, ou seja, testes. Salgado está a testar uma das medidas do plano, começando devagarinho, aos domingos, para ver o que a coisa dá. Mas aqui o porquinho da Índia está um pouco enervado com a coisa. Vamos parar com isso, vamos?

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Pedir-me dinheiro

O Henrique Raposo (ou o escritor Lucky Luke, mais rápido que o próprio pensamento), com quem muitas vezes não concordo, escreveu um bom post sobre «os partidos», do qual destaco o último parágrafo (sublinhado meu):

Os partidos têm de ser privatizados. Separem, sff, os partidos do dinheiro do Estado. Eles só representarão as minhas preocupações quando forem obrigados a pedir-me dinheiro. Os partidos só fazem sentido se partirem da sociedade para o Estado. Em Portugal, ocorre uma aberração: os partidos partem do Estado para a sociedade.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Até estou disposto a esquecer a foto das lésbicas polacas



(...) Embora ainda goste de fotografia como apreciador passivo - Ansel Adams, belo. Jeff Wall, belo, Mapplethorpe, belos corpos - friso que desconfio daquela arte, no mesmo grau em que desconfio da arte abstracta e por diferentes motivos. Mas sobre isto creio que estamos conversados. (...)

Vasco Barreto


Ai não estamos não. Isto não fica assim. Sobrevive lá mas é a esse tornado e depois conversamos. Desconfiar da arte abstracta, pfff...

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Mr. Brooks



Mr. Brooks tem uma qualidade inegável (entre muitas): lembra-nos de que Kevin Costner sabe representar.

Eduardo Prado Coelho

Pelas coisas em que se concordava com ele, mas sobretudo pelas coisas em que se discordava dele, Eduardo Prado Coelho deixará saudades.

Para as suavizarmos, O Público disponibilizou on-line as crónicas de EPC desde 28.12.1998.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Half awake

Prestem atenção ao facto da música ser a 3/4, com a excepção da mão direita do piano, a 4/4. Isto mata-me.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

«Christopher Hitchens, um Vasco Pulido Valente do jornalismo americano»

A FATALIDADE DA RELIGIÃO, por Pedro Lomba.

Fragmentos ao almoço (3)

«... eu vi o mercedes a passar, pá, e pensei logo, olha, a boazona... já lhe roubaram o mercedes...»

(Funcionário de uma oficina automóvel à porta da mesma.)

O «machista-leninista»

Recomenda-se esta fase agostina* do Estado Civil, mormente as entradas de 22 e 23, de onde me permito destacar a seguinte, a título ilustrativo:

Os clichés costumam ser «reaccionários». Mas há imensos clichés «progressistas», sobretudo no domínio dos costumes. Um dos mais insuportáveis é este: «Não gosto da expressão "fidelidade"; fiéis são os cães; eu exijo é honestidade». Sujeito que diz isto está catalogado: é um machista progressista (também conhecido como «machista-leninista»). A honestidade é uma virtude adjectiva e não substantiva. Um canalha honesto continua um canalha. A «fidelidade» pode ter significado coisas nada agradáveis (como a submissão da esposa ao marido, etc), mas tem um núcleo positivo indiscutível. A honestidade, em si mesma, é apenas uma desculpa. E as desculpas são formas de desonestidade.

Ian McEwan também marca presença. Curiosamente e por coincidência, recentemente decidi dar início à minha fase Ian McEwan. Explico. Com Brooklyn Folies decidi enterrar Paul Auster - não que o livro seja mau, aliás, é muito bom, mas já cansa - com uma lápide catita a fazer lembrar os parentes que não deixam muita saudade mas por quem sempre nutrimos simpatia. Amsterdam, 10 euros na FNAC, 35 páginas lidas, tem correspondido. Esse McEwan tem pernas para andar.

* Apeteceu-me inventar estar palavra e o trocadilho apresentou-se-me como viável. O blogue meu, faço o que eu quiser.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Entre esqualos e lésbicas polacas

Está muito bem o Vasco Barreto. E como oportunamente apontou o maradona, esta «literatura de viagem» deixa embaraçado esse desesperante e irritante profissional da coisa que é Gonçalo Cadilhe, o alter-viajante amigo do ambiente e do planeta, de caneta sempre em punho pronta para juízos morais ao «Ocidente», sedento por qualquer coisa que transpire a uma «outra civilização», uma «nova cultura», um sítio «marcante», uma «gastronomia interessante». Cadilhe fez muito para denegrir o género, ao mesmo tempo que se tornava mentor de uma moda pejada de «jovens» que escrevem sobre as suas viagens a sítios politicamente correctos e muito distantes, que dão aso a «descobertas pessoais», a «revelações interiores», a «reflexões metafísicas», a «encontro de culturas», e, inevitavelmente, a vontades de transformar a «sociedade ocidental», que se deixou cair no «materialismo» mais superficial, empurrando para a margem a «espiritualidade» e o «transcendente». Livra.

P.S: Quando puderes, companheiro Vasco, anexa foto das polacas. Obrigado.

E lá ficará, sem medo

No penúltimo post está escrito «(...) após de começar (...)». A minha mulher acha que há a possibilidade de isso não ser interpretado como uma gralha. Leitor, eu respeito-te e sou teu cúmplice: isso nunca me passou pela cabeça.

Estes correios

«Estes correios...», desabafava a funcionária dos correios, exteriorizando o que lhe ia na alma e adivinhando o que ia na minha. Comecemos pelo princípio. Os CTT e os seus balcões há muito que parecem empenhados em ser co-autores deste blogue. A quantidade - e qualidade - da matéria prima que fornecem é suficiente para justificar o epíteto. Desta feita a coisa parecia que iria correr sobre rodas. No sítio mais bonito do país, que acontece ficar a dois passos da minha casa, a estação estava vazia. Fui atendido prontamente, apresentei o papel para levantar o documento à cobrança, e esperei. A senhora levantou-se. Foi lá atrás. Voltou com o pacote na mão mas não se dirigiu imediatamente para mim. Ficou a segredar coisas com a colega lá da ponta. Percebi que algo se passava. Quando voltou ao seu lugar, exclamou: «bem, há sempre uma primeira vez para tudo». Mais tarde iria perceber que este tinha sido o momento em que tudo se começou a precipitar. Puxei do bloco de notas. Um blogger avisado vale por dois. O sistema, sempre o sistema: o principal inimigo do funcionário. Enquanto olhava para o monitor, a funcionária anunciava e explicava o desastre iminente: o sistema foi mudado, agora os vales são directos, etc, obviamente eu não estava interessado. A chefe chegou, pois a colega do lado assim o informou: «a chefe chegou em boa altura». Fiquei pasmado: aquela senhora não dirigiu a palavra a ninguém, nem sequer o coloquial «bom dia». Escusado será dizer que todas as funcionárias (estava num feudo feminino) seguiram a chefe, não lhe dirigindo a palavra. Um local de trabalho onde as pessoas não se dizem «bom dia» é um barril de ressentimento, pensei eu. Entretanto, a culpa (como seria informado no final) continuava a ser do sistema, que insistia em contraria toda a lógica. Pelo menos a lógica da funcionária, que achava que nada daquilo «fazia sentido». Eu, que estava silenciosamente agradecido por tanto material, nada disse quando a colega do lado, um pouco mais expedita, interveio: «mas porque é que não aceitas o dinheiro do senhor e acabas isso depois?» A senhora que me estava a aviar explicou: «porque não vou poder chamar mais ninguém enquanto não acabar isto». O mexilhão (eu) que se lixasse. A colega, continuando a provar ser mais diligente, persistiu: «mas o senhor não tem culpa disso». Isto não é um post, pensava eu, é todo um conto carregado de deduções antropológicas. Deixei-me ficar e redobrei a atenção. Infelizmente, e apenas decorridos 20 minutos, o episódio parecia ter chegado ao fim. A mulher (para quem eu já tinha perdido toda a paciência) mudou de posto e imprimiu o vale noutra máquina, desta feita introduzindo notórias alterações no procedimento, provando que a culpa não era do sistema, mas da sua sistemática incompetência. Quando voltou pediu-me desculpa, acrescentando: «a culpa não foi minha, foi do sistema.» Foi aí que percebi que tinha sido atendido pela esposa de Octávio Machado.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Você escreve melhor do que fala*

O Adolfo Mesquita Nunes, na entrevista ao Pedro Rolo Duarte, diz que a sua escrita não revela a sua personalidade: ao vivo é mais bem-humorado, sarcástico, impulsivo; ao contrário da sua escrita, mais clara, mais pensada, mais pausada. Isso também acontece comigo. Isso também acontece com todos os bons escritores (estou a pensar nos escritores de blogues, raios partam a palavra bloguista - ou blogger ou blogueador) que conheço (segundo parêntesis da frase para ressalvar que não me estou a incluir nesse lote). Estranho, ou melhor, menos interessante, é quando nos deparamos com alguém cuja escrita nada acrescenta aos seus outros meios de expressão. Regra geral, quem escreve deve transformar-se. A famosa «mão» de Lobo Antunes, a quem ele atribui a autoria dos seus romances. Para além do enorme privilégio de se poder ponderar cada palavra usada (privilégio inexistente quando falamos em directo - que bom, pausa para divagar, seria se fosse possível falar em diferido), a escrita é uma óptima máscara, mesmo quando involuntária. Mas é tão mais interessante quanto mais voluntária. Nos blogues, caminhamos num limbo entre a verdade e a ficção: todos os textos são escritos pelo «eu», um «eu» que é simultaneamente narrador e personagem. A mentira está sempre presente, a simulação do registo diarístico é irresistível. Há muita gente a escrever blogues precisamente porque os blogues não reflectem a personalidade dos seus autores. No fundo, escrever um blogue é acto de humildade, um acto de contrição: é assumir que estamos, nem que seja apenas em parte, fartos de nós.

* Jorge Calado dirigindo-se à minha pessoa, 2 minutos após de começar a minha defesa oral de um trabalho que o próprio já lera e segurava no colo. 19 valores, guardo no coração, mas sempre atribuí esse valor em falta à minha prestação no palanque. Há que ter ambição.

Where the fuck is Aljezur?

(...) Esta merda não é Aljezur? Não! Esta merda não é o mesmo que escrever no Publico? Não! Mas é mais lavadinho! (...)

Entretanto o jcd fez o trocadilho que todos andávamos a evitar. Shame on you.

Um certo descontrolo

A arquitectura moderna sempre se deu bem com os ares tropicais da América do Sul. Desde os pioneiros brasileiros, passando pelo fabuloso Barragán (enfim, mexicano), até à obra fulgurante dos chilenos nossos contemporâneos (Felipe Assadi, por exemplo), o calor parece assumir-se como o elemento que faltava ao modernismo, que com o tempo foi caindo de cinzento um pouco por todo o lado (por cá o elemento que nos salvou, pela mão de Távora e Siza, foi o que Kenneth Frampton chamou de «regionalismo crítico», uma espécie de compromisso entre o manifesto e a identidade). Nos trópicos nunca se sentiu essa necessidade de auto-crítica, e nunca se interpretou o modernismo como algo hermético. Sim, está lá o rigor geométrico, a modelação, o racionalismo, o gosto pela estética industrial. Mas a porta não se fecha à cor, ao tacto, ao sexo e a um certo descontrolo. Na América do Sul, o modernismo continua a fazer sentido.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Blogosfera Memória

A 11 de Maio de 2006, escreveu Filipe Nunes Vicente:

MICROCAUSA: Evitar a vinda de Fernando Santos para o Benfica. Ainda iremos a tempo?

Não fomos. Entretanto passaram-se 15 meses.

Respect

No Ípsilon leio que que Matt Berninger passa o seu tempo livre a ver episódios do West Wing, que os The National viajam «com as mulheres e namoradas», que são «10 anos mais velhos que os Strokes» e que não se consome drogas.

Destruir o milheiral é o menos

Na ecotopia as casas de banho eram «secas».

sábado, 18 de agosto de 2007

Sobreviventes da Torre Bela

Há uma frase deste lamentável post de Miguel Portas que é perigosa, e que prova que devemos começar a temer seriamente o Bloco de Esquerda agora que começa a aproximar-se do poder. Acabou-se o folclore das drogas leves, do aborto, da homossexualidade. Eles estão aí para as curvas, e como diz a minha avó, não há nada pior do que um parvo com iniciativa. Diz Portas:

(...) Quando uma população interrompe uma estrada ou uma linha de combóio (sic) por uma causa que considera justa, ninguém se lembra de condenar. (...)

Portas não percebe a diferença substancial entre as duas acções, que é uma dizer respeito a uma «desobediência civil» em espaço público, e outra dizer respeito a uma «desobediência civil» (e chega desta expressão patética) em propriedade privada. É grotesco assistir, hoje, à total desconsideração daquilo que deveria ser um dos pilares de qualquer sociedade democrática, o direito à propriedade privada. Lembram-se dos 25% dos fogos que o «Zé» quer obrigar os donos de obra a vender a preço de saldo? Eles não aprendem nada. Nada. Até que alguém apareça e lhes queira ficar com a enxada.

Adenda: O maradona explana a sua eloquência sobre este assunto.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Uma espécie de esquizofrenia



Pois eu sempre achei que o equilíbrio perfeito era fazer tudo com a mão direita e com o pé esquerdo, o que gera uma capacidade de adaptação invejável. Uma espécie de dupla simetria entre as pernas e os braços, naquilo a que poderíamos chamar uma máquina desportista perfeita, assunção que a minha barriga parece desmentir, embora um olhar mais cuidado possa voltar a pôr as coisas no devido lugar. Em jeito de ilustração, o meu posicionamento nos vários desportos:

- Ténis: Destro.
- Futebol: Canhoto.
- Snooker: Destro (mão direita atrás),
- Basebol: Canhoto (mão esquerda em cima.)
- Basquetebol: Destro.
- Surf (se o fizesse): Goofy.
- Golf: início de carreira como canhoto, presentemente destro devido ao facto de não arranjar tacos para canhoto (joguei duas vezes na minha vida toda, a última talvez há 4 anos, pelo que os dados podem não ser fiáveis.)

De referir que escrevo com as duas mãos, uma de cada lado do teclado.

Uma última nota: na imagem o Goofy não está na posição goofy.

PIB



Às tantas, na FNAC do Chiado, há uma banca que em vez de estar identificada pelo género de literatura que alberga, como é regra na loja, diz apenas «PREÇOS MÍNIMOS GARANTIDOS», ou qualquer coisa do género. Uma espécie de saldos permanentes de livros que já ninguém quer, que perderam o seu valor comercial. Foi aí que descobri, por 7 euros, Retratos e Auto-Retratos, de Vasco Pulido Valente, de 1992, na sua segunda edição de 1997, com a chancela da Assírio e Alvim (umas das editoras mais caras em Portugal, mas que papel é aquele que insistem em usar, senhores?). E pronto, era só mesmo isto que queria comunicar ao mundo. 7 euros. Também se explica por aqui - e um bocadinho mais ao lado, na banca da «Literatura de Viagem», onde se expõe, a título de exemplo, Margarida na Austrália, aparentemente sem ser em saldos e sem que ninguém se envergonhe pela proximidade deste livro da palavra «Literatura» - o porquê da nossa economia estar constantemente a divergir da europeia.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Fragmentos ao almoço (2)

(...) o gajo roubava, mas depois também era um gajo que dava bué (...)

(Menina alterglobalização, rastafari, multicolorida, fã de Robin dos Bosques, falando com o seu colega na base do Elevador de Santa Justa, durante o intervalo da colecta ao turista.)


Está relançada a série.

Não está a incomodar ninguém

Saio porta fora e vejo uma carrinha da Emel de porta aberta, os funcionários lá dentro, o cidadão bloqueado cá fora, de cartão multibanco na mão, a pagar a respectiva multa, enquanto tenta apelar à simpatia dos funcionários (numa cena a fazer lembrar um jogador de futebol a protestar com o árbitro depois de ter visto o cartão amarelo) dizendo, enquanto apontava para a respectiva viatura:

- Mas não está a incomodar ninguém.

O carro, o tal que não está a incomodar ninguém, encontra-se candidamente estacionado em cima do passeio que serve de separador central da rua arborizada. É um passeio largo, generoso, como há poucos em Lisboa, o que terá levado o cidadão a considerar que mais carro menos carro também não estorva. Não está a incomodar ninguém. Este ser humano acéfalo, no fundo, apenas sofre de um mal que não é raro nos cidadãos olisiponenses, isto é, a incapacidade de observar a cidade de um outro ponto de vista que não a retaguarda de um volante, buzina incluída.

Agustina em 230 palavras

Já tinha dado pelo texto na Visão. Vejo agora que o Pedro Mexia o colocou no blogue, poupando-me à transcrição. Se se pudesse definir Agustina em 230 palavras, apenas 230 palavras, seriam (e são), num intervalo de confiança de 95%, estas:

Entre muitas, três características fazem o génio e o fascínio de Agustina.

Desde logo, a improvável aliança entre os universos de Camilo e de Musil. Histórias nortenhas com ancestralidade, velhas casarões, matriarcado e pundunores desagravados (mas sem melodrama nem domésticas como leitoras). E digressões ensaísticas, agudas farpas sociais e finíssimas análises de carácter. Em Agustina, o narrador é Agustina, uma força da natureza, tão perspicaz como implacável, e que não discute nunca a sua autonomia.

Depois, Agustina inventa uma classe social, uma alta burguesia meditativa, uma aristocracia aforística, que tem e teve sempre pouca correspondência na vida real. É um Lampedusa mais selvagem que imagina as suas personagens demasiado inteligentes para conviverem com outras pessoas, demasiado cruéis para gostarmos delas, demasiado sexuais para serem confiáveis. Não há naturalismo nos seus romances, mas um realismo algo mental e tão concreto como a inveja ou o desprezo.

Finalmente, Agustina disseca aquilo a que se chamava antigamente a “alma humana” (antes desses bisturis que a procuravam sem jeito nenhum). É um freudismo com prática clínica e tudo. Agustina gosta de provocações, mesmo as subtis. E nunca procura agradar. A sua máxima é o máximo de boas maneiras e o mínimo de lisonja. Nenhuma verdade é amável, e mesmo a “verdade” não é alicerce que se recomende. A angústia é em Agustina uma forma de alegria porque, como escreveu, sem imperfeições não existe beleza.

«Radical Libertarian»

Segundo este teste, o meu candidato nas próximas eleições americanas seria (parece que o rapaz tem a campanha «suspensa») esta figura:



Kent McManigal (campaign suspended) (66%)
Michael Bloomberg (not announced)(63%)
John McCain (59%)
Ron Paul (58%)
Dennis Kucinich (55%)
Christopher Dodd (54%)
Barack Obama (52%)
Mitt Romney (50%)
Rudolph Giuliani (50%)

Etc.

Ou seja, ainda bem que eu não voto.

sábado, 11 de agosto de 2007

Hoax

Em The Hoax apercebi-me de que «Hoax» é uma palavra que se escreve exclusivamente com letras simétricas (na sua forma maiúscula). Não faço ideia do que isto quer dizer.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Status quo

A hipótese de Manuel Vicente se candidatar a presidente da Ordem dos Arquitectos é afinal, e infelizmente, inviável. Pessoalmente agradeço: assim poupam-me a uma deslocação à Travessa do Carvalho. E João Rodeia, que fez um trabalho lamentável à frente do IPPAR, será o senhor que se segue. Para que tudo fique na mesma.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Free from it all / I'm not gonna change

Anteontem, no Sudoeste, tocaram Albert Hammond Jr e os Razorlight, no Palco TMN, e os The National na Tenda Planeta Sudoeste. Passando à frente do nome deste último palco onde actuaram os The National (vénia), que só pode ser sarcasmo do mais fino, admito que nem este conjunto de artistas que muito prezo me levou à Zambujeira. A verdade é que não tolero festivais de verão (inventem o conceito de «festival de inverno» e talvez me seduzam). São demasiado parecidos com acampamentos do Bloco: demasiado «convívio» para tão pouco sabão. E também me falta a paciência para um sentido de humor que se diverte com o duplo sentido da expressão «montar a tenda». Os jovens, esses, parecem gostar. Os jornais e as televisões não nos poupam a testemunhos dos festivaleiros, que nos explicam como apreciam a música e os artistas em palco, em discurso directo: «isto é altamente», «abaixo o Bush», ou «alguém viu o cabrão do Marco que me ficou com o saco daquele xixo que o meu primo me trouxe de Marrocos, pá?» Woodstock, como os Rolling Stones, é algo que nunca deveria ter sobrevivido à década de 70.

Adenda: o Major, que é uma pessoa de inegável bom gosto, esteve presente no Sudoeste, acompanhado por um senhor de manga à cava, e fez o papel de agente infiltrado da reacção. Fica nota de apoio.

sábado, 4 de agosto de 2007

Weeds

A RTP2 começou a transmitir a série Weeds, em regime de dose dupla às segundas-feiras, e já nos pegou de caras. A história é simples: uma dona de casa de classe média-alta perde o marido, cuja morte deixa seca a fonte de rendimentos. Desesperada, começa a vender erva no seu bairro habitado por gente endinheirada que tem SUVs para transportar as respectivas famílias disfuncionais. Os homens, quarentões com adolescências mal resolvidas, transformam-se na clientela perfeita, e o negócio de Nancy Botwin começa a correr sobre rodas. A escrita revela um humor inteligente e sarcástico. E Weeds tem mais um excelente dote: Mary-Louise Parker, a Amy de West Wing, dona de um dos mais enigmáticos sex-appeal de que há memória.

É metálica e bem bonitinha, roda e faz vrum vrum

Lisboa em Agosto. Apesar do calor é onde me apetece estar. Fim de férias, interroga-se o leitor. Nem por isso. Férias, ainda. Comprámos uma ventoinha, por isso não há melhor sítio para se estar do que a Baixa de Lisboa. Estão 28 graus dentro de casa, em parte devidos a uma amnésia temporária da minha parte. Esta noite foi insuportável. A minha mulher abriu janelas, fechou janelas, tomou duches frios, delirou: eram quatro da manhã quando me perguntou sobre o hipotético preço de um ar condicionado. «Achas que precisamos de licença para isso?» «Talvez, isto agora com o Manuel Salgado vai apertar aqui na Baixa». Também eu já delirava. Só quando tentava tomar banho, já de manhã, e a água insistia em aparecer fria, me apercebi do sucedido: ontem confundi os botões da caldeira e em vez de ligar a água quente liguei o aquecimento central. Silly season é silly season. Adiante. Notícias do bairro: à frente da nossa janela, a obra que nos tem atormentado as manhãs já não é anónima. Vamos ter um hotel à porta de casa, um hotel espanhol com nome artista mal soletrado. Se calhar o Saramago tem razão. Como sabem, a invasão espanhola não é assunto que me apoquente, e recebo de braços abertos o novo vizinho. Entretanto, passaram-se coisas. Deixo uma fotografia de Manuel Vicente a aplaudir este texto da Annie Choi. Ah, não está a aplaudir o texto da Annie Choi? O quê, o Manuel Vicente é o novo presidente da Ordem dos Arquitectos? Passaram-se muitas coisas, pelos vistos. Mas, conhecendo-o como eu o conheço, quase que aposto que se não são as palmas devidas ao texto da Annie Choi, então é o sorriso. Li uns livros nas férias, mas não me apetece falar disso.