quinta-feira, 15 de julho de 2010

Todos com Eleutério

«Eleutério Cortes, 42 anos, empresário da construção civil, subiu ao volante de uma empilhadora e invadiu, ao fim da tarde de terça-feira, as instalações do Centro Espiritual da Igreja Universal de Reino de Deus (IURD), em Faro.

(...)

"Entreguei cerca de cem mil euros ao pastor. Acreditei em falsos profetas e agora estou arruinado", disse. Eleutério Cortes explicou que foi enganado por publicidade enganosa. "Vendi o barco, cavalos, ouro, material de trabalho e só não vendi mais porque a minha mulher não me deixou", confessou.»

No Correio da Manhã

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O monólogo do umbigo

O Pedro, que é um homem da cultura, reagiu contra os filisteus (de direita) por causa da polémica dos cortes (que afinal já não são) aos subsídios a artistas independentes. Julgo que consigo identificar a classe a quem o Pedro se dirige e percebo perfeitamente o seu incómodo. Mas há mais vida para além da «direita dogmaticamente liberal» e da «esquerda analfabeta» no universo daqueles que questionam a política de apoios do Ministério da Cultura. Eu, que, sim senhora, também defendo o modelo do mecenato (embora reconheça que não é um modelo perfeito e que a sua implementação prática não é tão fácil quanto a sua formulação teórica), percebo o tom de algumas críticas e não são tão rápido a declarar qualquer manifestação de dúvida como «ódio à cultura». A cultura, quando fica em circuito fechado - isto é, quando o universo consumidor se funde quase totalmente com o universo criador - perde grande parte da sua razão de ser, e não é difícil encontrar manifestações culturais culpadas desse pecado. Uma coisa é uma companhia de teatro que vai representar Beckett a Aljustrel, outra é o «criador» que nunca saiu do Bairro Alto e que reclama a mensalidade para espalhar cascas de ovo partidas no chão da galeria com uma legenda a dizer «A CRIAÇÃO DO MUNDO». A «cultura», como tudo, não pode ficar refém dos caprichos daqueles que a produzem, tem de existir, em algum momento, um diálogo qualquer com o resto do mundo. A ideia não é acabar de vez com tudo o que não dê lucro, é acabar de vez com tudo o que não agradece a atenção.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fábio na piscina dos grandes

Ah, o meu onze, então:

Casillas; Coentrão, Piqué, Mertesacker e Sérgio Ramos; Xavi e Schweinsteiger; Iniesta, Mesut Özil e Mueller; Villa.

A Holanda? Ainda pensei em aldrabar aqui o onze como faz toda a gente (inventar um 4-4-2 para meter 4 médios ofensivos a titulares, como fez o Freitas Lobo lá no Expresso ), mas nem o Sneijder foi capaz de vergar os meus princípios: o Özil é uma maravilha e foi mesmo o melhor número 10 da copa.

ADENDA: No banco, obviamente, D. Vicente.

Somos todos particularmente espanhóis

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Trôpega clonização

Gostar de Cristiano Ronaldo era também um acto de resistência. Perdoávamos-lhe o narcisismo, o provincianismo, o deslumbramento, a iliteracia e a bazófia porque os seus opositores eram muito piores. Ele nunca foi um dos nossos por isso nem sequer era necessário apelar ao pronto sentimento de classe. Consagrar-lhe tão obeso estatuto de estrela era uma maneira de continuar a preservar no futebol um dos seus maiores trunfos: o jogo é uma vibrante perda de tempo.
Agora saímos órfãos. Com esta trôpega clonização CR9 arrumou moralmente as botas.

Tiago Cavaco, 09-07-2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Viva a Espanha

Desculpem lá, mas estava-se a ver. Eu gosto muito desta selecção alemã, gosto, sobretudo, dos miúdos - do Özil, do Khedira, do Mueller - como sempre gostei do Podolski e do Schweinsteiger, mas não se pode construir uma selecção campeã do mundo às costas de uma selecção campeão do mundo em sub-21 (falta acrescentar o Neuer e o Boateng). Muito provavelmente, esta geração irá ser campeã da europa em 2012 e chegará à final em 2014 (onde perderá pela margem de um golo contra o Brasil, num penalti muito duvidoso sobre o Neymar), mas este ano tinha de ser mesmo da Espanha. Gosto muito de ver a Espanha jogar. Gosto muito daquela circulação de bola e não concordo nada com os que a criticam: o problema da aparente falta de eficácia daquela circulação de bola nasce da atitude de qualquer adversário (Portugal, Paraguai, Alemanha) que dá por dado adquirido a sua inferioridade e se limita a aguardar por um erro espanhol. Mas aquilo que as equipas de Mourinho conseguem - transformar a ausência de posse de bola numa vantagem psicológica - mais ninguém consegue, e com o passar dos minutos começa a instalar-se uma sensação de inevitabilidade: mais cedo ou mais tarde o golo vai aparecer, nem que para isso tenha de lá ir o defesa central cabecear a bola. Aquele lance do Pedro no final do jogo (peço desculpa por ter dito em tempos que achava o Pedro um bom jogador), desperdiçando de uma forma absolutamente distrital o segundo golo que mataria o jogo, poria qualquer selecção num estado de nervos incapaz de evitar o empate. E se anteontem quase que acreditámos que o Uruguai iria chegar ao terceiro, nem por um momento alguém acreditou ontem que a Alemanha iria marcar um golo que fosse. Gosto muito da forma de jogar da Espanha, e acho que esta selecção representa tudo aquilo que o futebol deveria ser. E, obviamente, acho que seria um grande serviço ao desporto a Espanha ser campeã do mundo: provaria que se pode ganhar coisas a jogar bonito, algo extremamente necessário depois daquilo que se passou com o Inter este ano. O problema não está na existência de uma equipa que consegue ganhar tudo sem ter a bola, está no conjunto de equipas menores que decidem emular um estilo de jogo para o qual não têm talento.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sneijder

«Wesley Sneijder foi baptizado dias antes de partir para a África do Sul.

O jogador holandês, que ontem marcou um golo crucial na vitória sobre o Uruguai, vive um dos momentos mais altos da sua carreira, pouco tempo depois de ter assumido um novo rumo para a sua vida espiritual.

O interesse de Sneijder, que tem possibilidades de se sagrar o melhor marcador da prova, terá sido despertado por uma ida à missa com o resto do plantel do Inter de Milão, a equipa italiana onde joga, onde sentiu “uma força e uma confiança que me perturbaram”. Depois de fazer um percurso de catequese com o capelão do clube, foi baptizado em finais de Maio.

Agora na África do Sul Sneijder admite que reza todos os dias, e leva consigo o terço oferecido pela sua noiva, com quem faz tensões de se casar pela Igreja quando terminar o campeonato.»

Via (não é tudo?) Bola Branca

Embora não precisássemos de mais argumentos para declarar Sneijder o melhor dos holandeses.

O Maxi

(...) Num lance rápido o jogador uruguaio marcou o 2-3 (foi Maxi Pereira mas podia ter sido qualquer outro; Forlán à parte, a equipa é feita de gente anónima, jogadores medianos que apenas ganham espessura épica com a sua circunstância) (...)

Eduardo Nogueira Pinto

A frase citada encaixa na perfeição no raciocínio comovente do Eduardo - mas não é verdadeira: o Maxi, ó Eduardo, «gente anónima», jogador mediano? O calor e o meu coração não me permitem aguentar coisas destas. O Maxi Pereira anda há três anos a sedimentar a sua espessura épica que nada deve à circunstância (que é a mesma de um conjunto de pessoas epicamente bidimensionais como, vá, o Luís Filipe) mas sim à espantosa capacidade que ele tem de tornar evidente a sua dedicação não ao futebol, não à pátria, não ao clube (tudo entidades abstractas), mas sim aos 90 minutos de cada jogo em concreto. Ver o Maxi Pereira trabalhar semana após semana redime temporariamente todos os males do mundo. Admito que o seu estilo de jogo possa ser comparado ao de um funcionário público empenhado e muito competente, mas devia ser pecado considerarmos que um funcionário público empenhado e muito competente é gente anónima, que é um jogador mediano sem espessura épica, que no fundo é alguém que não tem nem a aparência física nem o currículo para trabalhar no sector privado. Eu não tenho dúvidas nenhumas sobre isto: se no Uruguai jogassem 10 Maxis à frente da baliza, a Holanda nem voltaria para a segunda-parte tal seria a vergonha.

Sobre a linha de Cascais

Equívocos, um texto certeiro do Eduardo Pitta.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Rumo à final

Against interpretation



(daqui)

Agora os arquitectos explicam os edifícios através de diagramas coloridos. Os diagramas coloridos explicam o processo que conduziu ao resultado final. Aquilo que devemos admirar não é, portanto, o resultado final - aquilo que irá ser construído e agredir o dia-a-dia do transeunte - mas sim o processo, e com isso o criador reclama para si a atenção devida à obra. O sinal de alarme devia ser dado pelo simples facto de se considerar que a obra carece de explicação, mesmo antes de percebermos que essa explicação não é mais do que uma manobra de propaganda destinada a condicionar a nossa própria apreciação: o arquitecto mostra-nos o edifício e diz-nos como o devemos interpretar. O diagrama assume-se como justificação irrefutável de uma obra que é suportada pelo diagrama - se nada mais existir que a suporte; o arquitecto reclama assim para ele a autoridade de um universo que se justifica a si próprio, como se nada mais houvesse para o justificar. O diagrama é a chave que revela a solução do enigma, e quem não tem o diagrama fica necessariamente sem a solução. É claro que o diagrama quer substituir a crítica - a crítica erudita e a crítica popular - anulando qualquer outra via que não a sua. No fundo, atira os foguetes e apanha as canas. Esta procura de prazer solitário tem um nome.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Esclarecimento à população

Ainda acho que a Espanha tem equipa para a Alemanha.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Brasil - Holanda

Este foi muito útil para eu perceber uma série de coisas.

1. Nunca gostei da Holanda, afinal. Eu cresci a amar - a palavra é mesmo amar - o futebol holandês. Desde criança que, devido à ausência de Portugal nas fases finais seja do que for, a Holanda é a minha selecção. Hoje percebi que «a Holanda» não representa nada mais do que o conjunto dos jogadores que a representam e, sobretudo, representaram. Eu amei a selecção de Gullit, Rijkaard e Van Basten nos anos 80, como amei a selecção de Davids, Seedorf e Bergkamp dos anos 90; este aglomerado de jogadores que orbitam em torno de Sneijder provocam em mim um sentimento muito pouco consentâneo com a minha memória. Há algo de profundamente errado com esta selecção de Van Persies, Kuyts e Robbens (por Deus, o Robben é único jogador do mundo com um rácio inteligência / talento menor do que o Di Maria) e eu acho que já sei qual é: faltam pretos. Esta Holanda não tem um único preto que se veja (tem Elia que não joga). O mais parecido que tem com um preto é aquele trinco que não é o Van Bommel e o lateral direito, e mesmo esses imagino que será preciso ir até à terceira geração para se encontrar um preto de jeito. Esta Holanda quase que parece escalonada pelo Pim Fortuyn, e isso não pode ser bom para ninguém.

2. O Filipe Melo é uma besta.

3. O Dunga é uma besta.

4. O Brasil, que anda há 20 anos a apresentar selecções cheias de trincos por todo o lado, vai ter de mudar de atitude: assim já não vai lá, e isto pode ser bom para o futebol.

5. Vamos ter um Holanda-Uruguai (ou Gana, sei lá, já não digo nada) nas meias enquanto que do outro lado do quadro vamos ter um Argentina-Alemanha nos quartos: a Itália faz muita falta.

6. Se, porventura, a final for Holanda-Espanha, está garantido um novo campeão do mundo, e isso é bonito.

7. Os comentadores da Sporttv não conseguiram dizer uma única vez a palavra «Maicon» sem dizer «o melhor lateral direito do mundo» logo depois. Pavloviano.

8. Olha o Mainardi cheio de razão.

9. O Fizz é o filho bastardo do Super Maxi e do Calipo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

«Os actores já podem trocar de namorada todos os dias»?



O 24 Horas era dirigido pelo João César das Neves e ninguém sabia.