quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Também tu, Bruno?

Também tu, Bruno? Há dias encheste-me de alegria quando obrigaste o Pinto da Costa a recorrer a essa muleta cobarde do futebolês que é o «Não conheço esse senhor», sempre invocada quando não há mais nada para dizer, e agora isto? E tu que começaste tão bem, com essa referência sarcástica ao ciclista, tão bem metida, tão a propósito, que não havia necessidade de estragar tudo com esse remate. E eu que até aposto que tu já choraste com o Rui Costa, não esse, que tu conheces, mas o outro, o futebolista, que marcou aquele golo à Irlanda em 1995, abrindo caminho ao regresso da selecção de todos nós às grandes competições internacionais. Aposto que se calhar até lá estavas, com os teus 23 anos carregados de paixão futebolística, a ver o teu Figo, o teu Oceano, e o nosso Paulo Sousa. Quase que te vejo lá, exultante, esquecendo por breves, brevíssimos momentos o anti-benfiquismo honesto que te corre nas veias, orgulhoso de saber que também tu, enquanto adepto do Sporting Clube de Portugal, eras responsável por aquele feito extraordinário do pequeno país que dá nome ao teu clube. E talvez também tenhas sentido uma emoção desenfreada com aquele golaço contra a Inglaterra, também no Estádio da Luz, esse covil de lampiões, em 2004, que manteve vivo o nosso sonho de chegar à final. Não, ninguém acredita que tu não conheces «o outro» Rui Costa, o «verdadeiro», se me permites, como diria o José Mourinho (abuso da tua paciência, eu sei: o José Mourinho é um treinador português com algum currículo internacional, pede para te verem isso na internet que valerá a pena). Ninguém acredita, Bruno, porque tu és um exemplo para todos nós do que deve ser a paixão pelo futebol; tu fazes-nos questionar o nosso esforço na devoção ao desporto-rei, tu envergonhas-nos com a tua dedicação, a tua procura incessante pela glória ("esforço", "devoção", "dedicação" e "glória", isto sou eu a apelar ao teu coração). Eu não esperava isto de ti, e por isso vou acreditar que foi um deslize passageiro, uma vez sem exemplo, uma fraqueza que também é permitida ocasionalmente aos grandes homens. Um abraço amigo.